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Avaliação do Processo de Implementação e de Adaptação Cultural do Programa Fortalecendo Famílias (SFP 10-14): Fase Pré-Piloto (2013-2014)

A adoção de políticas públicas efetivas para a prevenção ao abuso de drogas lícitas e ilícitas é urgente no Brasil. Programas de desenvolvimento de habilidades familiares para cuidadores e adolescentes apoiados em evidências de efetividade constituem uma das medidas preventivas cabíveis. A Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde adotou para o Brasil no ano de 2013, em caráter experimental, o Programa Fortalecendo Famílias (SFP 10-14), focado no desenvolvimento de habilidades parentais, habilidades sociais de enfrentamento à pressão dos pares e resolução de problemas entre adolescentes e fortalecimento dos vínculos familiares. Este programa foi desenvolvido originalmente nos Estados Unidos e posteriormente adaptado para diversos países europeus. Deste modo, sua adequada implementação no Brasil requer adaptação cultural para se incrementar sua relevância, atratividade e clareza para nossas famílias e jovens. O estudo teve um triplo objetivo: avaliar a adequação cultural de materiais e atividades do Programa Fortalecendo Famílias para subsidiar sua adaptação cultural para o Brasil, avaliar o processo de implementação do Programa Fortalecendo Famílias e adaptar os instrumentos de avaliação de resultados para a língua portuguesa. O programa foi implementado em seis regiões administrativas do Distrito Federal, nos Centros de Orientação Socioeducativa, entre os meses de novembro e dezembro de 2013. Utilizou-se um delineamento transversal com avaliação por triangulação de métodos, com múltiplas medidas e múltiplos informantes. Participaram 93 pais/ responsáveis, 107 adolescentes, seis multiplicadores federais, 15 facilitadores vinculados aos Centros de Orientação Socioeducativa e Centros de Referência em Assistência Social, cinco gestores do programa designados pelo Ministério da Saúde e dois desenvolvedores do Programa Fortalecendo Famílias, vinculados à Escola de Saúde e Assistência Social da Oxford Brookes University (Inglaterra). A coleta de dados deu-se antes, durante e ao final do programa, por meio de entrevistas, questionários, escalas, sentenças incompletas, observação direta e grupos nominais. Os resultados evidenciaram que o programa foi percebido como suficientemente relevante, atrativo e claro, na perspectiva de familiares, jovens, observadores externos e líderes de grupo. Indicações para adaptação cultural de aspectos linguísticos e cenários dos vídeos e atividades foram feitas por familiares, jovens e líderes de grupo. Foram constatadas flutuações na fidelidade do programa, com omissões de procedimentos mais frequentemente ao início e ao final de sua implementação. Aspectos que influenciaram na fidelidade foram analfabetismo de parte dos participantes, tempo dispendido para avaliações de pré e pós-teste, ausência de planejamento em conjunto entre os líderes de grupo, ausência de preparação do material pelos líderes de grupo, tamanho do grupo, ausência de cuidadores para as crianças menores de dez anos, problemas no transporte e incompatibilidade entre os procedimentos da sessão e o perfil dos participantes. Por outro lado, o ambiente do COSE foi considerado facilitador na implementação do programa. Os líderes de grupo e observadores externos perceberam os jovens e seus familiares como responsivos ao programa, como bons níveis de participação, satisfação com os procedimentos e apreciação dos temas como relevantes para a própria vida. Foram também satisfatórios, mas com intensidade levemente menor, os indicadores apoio entre os participantes e entendimento dos temas abordados. Ademais, os pais/responsáveis e jovens relataram satisfação com o programa, principalmente com as aprendizagens vivenciadas e as atividades. Por outro lado, insatisfação foi relatada pelos pais/responsáveis quanto à curta duração do programa e trocas restritas entre os participantes. Os jovens, por sua vez, relataram insatisfação quanto a algumas das atividades do programa, como as percebidas como muito infantis. Os líderes de grupo demonstraram, por um lado, habilidades gerais de apoio às forças da família e empatia e, por outro, poucas habilidades para incremento à interação entre os membros dos grupos e, ocasionalmente, condutas não responsivas. Quando entrevistados aos dois meses após o programa, os pais/responsáveis relataram fazer uso de conhecimentos e habilidades aprendidas no programa e perceber impacto do programa sobre a qualidade das interações na família, no próprio comportamento de comunicar-se com os filhos, regular as emoções e dispender tempo com os filhos e, por fim, no comportamento dos filhos, como no engajamento em tarefas de casa, obediência a regras e melhora no desempenho escolar. Aspectos pouco claros foram identificados nos instrumentos de avaliação de resultados e foram ajustados para maior compreensão. São feitas recomendações para sua aplicação em ocasiões posteriores. Conclui-se que o programa alcançou boa aceitabilidade entre os participantes e revela potencial de benefício às famílias e jovens brasileiros, o que justifica sua disseminação para novas regiões do País, tomados os cuidados quanto à adaptação de materiais e procedimentos, seleção das famílias, formação de líderes de grupos, planejamento das sessões e infraestrutura.

Fomento: Esta pesquisa foi realizada pela Universidade de Brasília (UnB) no âmbito do PRODOC K47 “Atenção Integral a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade e risco para a violência e uso de álcool e outras drogas” firmado entre o Ministério da Saúde (Brasil) e Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), Brasil, 2014.

Equipe: Sheila Giardini Murta, Larissa de Almeida Nobre Sandoval, Carlos Eduardo Paes Landim Ramos, Marina de Souza Pedralho e Thauana Nayara Gomes Tavares.