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Prevenção em Saúde Mental no Brasil na Perspectiva da Literatura e de Especialistas da Área (2010-2012)

A prevenção em saúde mental tem se mostrado uma alternativa eficaz, de menor custo quanto comparado aos gastos com tratamento de transtornos mentais e com resultados confiáveis na diminuição da incidência de desfechos negativos em saúde mental em todo o mundo. Entretanto, estudos específicos sobre intervenções preventivas em saúde mental no Brasil são escassos. Esta pesquisa teve por objetivo identificar o estado da arte da pesquisa em prevenção em saúde mental no Brasil a partir da perspectiva da literatura e dos especialistas. Para tanto, foram desenvolvidos uma revisão conceitual e três estudos subsequentes. A revisão apresenta os principais conceitos e pressupostos teóricos relacionados à prevenção em saúde mental. Os resultados do estudo indicam ganhos conceituais e práticos com a ampliação da definição de saúde mental e de prevenção. Esses foram associados ao bem-estar, à psicologia positiva e a possibilidade de discussão dos fatores de risco e de proteção a partir do Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humanos. O primeiro estudo foi uma revisão sistemática sobre o estado da arte de pesquisa nacional em prevenção em saúde mental e analisou os estudos nas etapas do ciclo de pesquisa em prevenção. O ciclo de pesquisa em prevenção pode ser descrito em seis grandes etapas: a identificação do problema, a localização de seus fatores de risco e proteção, o teste piloto da intervenção preventiva, o teste de eficácia, o teste de efetividade e a difusão. Foram localizados 4.131 artigos. Desses, 651 (15,76%), eram estudos sobre prevenção em saúde mental.  Nessa categoria, a maior ocorrência foi de estudos exploratórios e de fundamentação (256 artigos, 68,45%). Foram identificados apenas 31 artigos (8,29%) que descreviam programas e somente 2,94% (11 artigos) deles eram sistematicamente avaliados. O segundo estudo foi uma revisão sistemática das características das intervenções preventivas sistematicamente avaliadas identificadas no estudo anterior, acrescida por novas intervenções localizas na literatura, além da identificação dos centros de pesquisa brasileiros que desenvolvem intervenções preventivas. Foram analisadas as características de 42 intervenções sistemáticas, identificadas em 25 artigos. As intervenções nacionais caracterizam-se por longa duração, com um número reduzido de sujeitos, realizadas semanalmente e focadas no ensino de competências. Dentre as pesquisas avaliadas, 84% não realizaram follow-up e 88% não discutiram a relevância dos seus resultados para as políticas públicas. A análise dos centros de pesquisa indicou que os pesquisadores brasileiros são, em sua maioria, psicólogos, filiados a instituições públicas de ensino do sudeste brasileiro.

O terceiro estudo analisou a perspectiva de especialistas, pesquisadores identificados nas revisões anteriores, sobre a pesquisa em prevenção primária em saúde mental no Brasil. Adotou-se um delineamento de estudo de casos múltiplos.

Dez pesquisadores brasileiros, especialistas em prevenção, foram entrevistados. Os especialistas ressaltaram a etapa de validação de instrumentos de medida como um dos grandes desafios atuais da área. Os resultados desta pesquisa indicam a descontinuidade da transformação de pesquisa básica em intervenções e tecnologias preventivas, a falta de interlocução entre a produção acadêmica e as políticas públicas, a necessidade de investimento em medidas de avaliação e parceria com diversas áreas de conhecimento, para que os programas possam ser disseminados em larga escala.

Apoio: CAPES (Bolsa Mestrado)

Equipe: Samia Abreu Oliveira, Ana Aparecida Vilela Miranda, Marina Pedralho e Sheila Giardini Murta